Não adianta ficar tentando aparentar aquilo que você não é para encontrar o seu par ideal, beleza não se põe à mesa e para cada sapato de cristal encontrado na escadaria da vida nem sempre existirão princesas, assim como para cada beijo dado em sapos no jogo da sedução nem sempre serão revelados os príncipes encantados.
Na vida real, a arte de encontrar um par ideal é bem mais complexa que nos contos de fada, pois todo ser humano busca o ato de amar e ser amado, ou seja, ser feliz no relacionamento afetivo.
Importante ressaltar que, em nossa formação vivencial, somos mal orientados sobre este assunto tão fundamental para o nosso desenvolvimento e, infelizmente, não existem escolas que ensinam sobre o amor verdadeiro.
Hoje, vemos exemplos de famílias onde os pais não podem ser considerados como o melhor modelo de relacionamento afetivo a ser seguido, pois estão sempre se desentendendo e, muitas vezes, rompem a sua conexão, justamente por descobrirem que almas gêmeas e amor verdadeiro não existem: é preciso entender que relacionamentos duradouros exigem sacrifícios permanentes, um ato constante de tolerância mútua, de saber dar e receber.
A vida tem nos ensinado que o ato de amar e se relacionar é baseado nas tentativas de erros ou acertos e, aprender a amar pode ser uma experiência dolorosa e até frustrante para a maioria das pessoas, principalmente para aquelas que não têm consciência de sua responsabilidade em estabelecer uma relação afetiva que exige troca de aprendizados com transparência, reciprocidade e cumplicidade.
O fato é que criamos modelos de amor e “relacionamentos perfeitos” baseados nas nossas expectativas em “como seria se alguém pudesse nos deixar felizes?”, satisfazendo as vontades do nosso ego. Criamos expectativas totalmente focadas no outro, em como seria se alguém pudesse realmente satisfazer todas as nossas carências e nos esquecemos da parte mais importante no relacionamento que é o ato de amarmos a nós mesmos antes de amarmos alguém.
Como a arte imita a vida, na animação infantil Shrek, temos a narrativa de um ogro que ama profundamente a si mesmo, mesmo sabendo que não é bonito. Ele não se importa com o seu jeito de ser, pensar e agir e isso o auxilia a ser livre do sentimento de uma possível baixa autoestima ou até de ser estereotipado como um modelo não convencional de beleza.
Ele é totalmente desapegado da vaidade e dos conceitos dos padrões de moda, inclusive, força a barra para não ser notado pela sua vizinhança, é grosseiro, deselegante, está sozinho mas é feliz.
Já Fiona, é uma princesa que, apesar da sua beleza exterior durante o dia se transforma em uma ogra à noite devido a uma maldição.
Para esta maldição ser quebrada, Fiona precisa ser beijada pelo “verdadeiro amor” que revelará qual é a sua “verdadeira identidade”…. Seria ela uma princesa ou uma ogra?
Com isso, ela se sente feia quando se transforma em ogra e, no início, rejeita também o ogro Shrek.
Como já disse antes, beleza não se põe à mesa e com o andar da estória, Shrek vai cada vez mais revelando sua beleza interior, enquanto Fiona externaliza seu mundo interior, ou seja, vai despertando cada vez mais a verdadeira ogra que existe dentro de si.
Por motivos semelhantes, tanto Shrek quanto Fiona se aproximam, exatamente por este elo de ligação comum - o sentimento de que são “diferentes”, independente desta aceitação consciente ou inconsciente - e o fato de acreditarem que ninguém poderia amá-los em situações convencionais.
Então, o que realmente conecta as pessoas?
É preciso entender que o nosso ego busca constantemente obter uma satisfação imediata, seja por bens materiais, realizações pessoais ou profissionais, e, principalmente, pelos relacionamentos, pois são eles que satisfazem basicamente nossas necessidades de segurança, reconhecimento e autoestima.
Então, podemos afirmar que baseamos nossas escolhas de relacionamentos na maneira como os outros poderão satisfazer as nossas necessidades: queremos que os outros nos admirem - pelo reconhecimento - e que também nos dêem carinho, proteção e zêlo - pela segurança e, com isso, aumentamos nossa autoestima.
O maior problema a ser revisto neste ponto, é que damos mais valor para aquilo que iremos receber dos outros do que para aquilo que realmente podemos oferecer à alguém em um relacionamento.
Com isso camuflamos o nosso “verdadeiro eu”, principalmente no início de uma relação afetiva, pois, na ânsia de cativarmos o outro para satisfazer nossas necessidades de reconhecimento e segurança, criamos uma falsa identidade baseada inconscientemente no medo que temos de sermos rejeitados por alguém, ou de não sermos aceitos pelo que realmente somos.
Então, o apego por esta falsa identidade, desta “máscara” que criamos para sustentar um relacionamento, com o tempo vai se desgastando e, com a possibilidade inevitável da revelação do “verdadeiro eu”, nos conduz a sentimentos e comportamentos negativos como falta de autoconfiança, desespero, medo, dependência, mágoa, ciúmes, entre outros.
Com isso, ao invés de celebrarmos o que um relacionamento afetivo realmente nos oferece - o ato de nos conhecermos melhor, íntima e profundamente, para também podermos conhecer melhor o outro, com seus defeitos, aceitando as diferenças, negociando expectativas e aprendendo com isso - ficamos apegados ao terrível jogo de como seremos validados pelo outro.
É preciso criar regras de conduta para um relacionamento afetivo, deixar bem claro quais são as necessidades que deverão ser satisfeitas e também as regras de deverão ser seguidas por ambas as partes e isso deve ser sempre revisado, pois é justamente por não se criarem estas regras de condutas que os relacionamentos terminam precocemente.
Importante entender também que os melhores pares são aqueles construídos com valores que são importantes para as duas partes: pessoas que têm valores em comum, como por exemplo honestidade, prosperidade, se relacionarão melhor entre si, justamente por acreditarem e respeitarem estes valores e por alinharem suas vidas em função disto. Gostos em comum também auxiliam na manutenção da relação, como por exemplo o gosto por viajar ou estudar.
Encontrar um par ideal é uma tarefa que exige paciência e persistência, pois o seu par ideal nem sempre será aquele que apenas possui beleza ou inteligência, mas aquele que complementa suas deficiências e faz com que você aprenda a superar seus limites.
Assim como no filme Shrek, no qual o ogro é bonito por dentro, não se limita com suas imperfeições e ainda auxilia a princesa a aprender a lidar com suas limitações, você precisará aprender, antes de buscar um par ideal, a reconhecer o seu “verdadeiro eu”, respeitando também o “eu” que existe nos outros, com todas as suas imperfeições ou diferenças.
Finalmente, é preciso entender que, nesta vida, quase sempre buscamos encontrar em alguém aquilo que não conseguimos visualizar em nossa essência: ficamos tão obcecados em encontrar um amor verdadeiro do lado de fora que nos esquecemos de olhar para o amor que existe dentro de nós.
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