“Ei, posso tirar um selfie com você?”
Você não é a única pessoa que deve estar sendo abordada por outras pessoas com celulares em mão, dispostas a clicar aquele momento mágico que ficará eternizado nos anais digitais do mundo virtual, correto?
Com os novos dispositivos digitais, celulares com câmeras de foto e vídeo em alta definição, que além de capturar imagens ainda disponibilizam recursos para processar, manipular e compartilhar com inúmeras pessoas, o “selfie” tem sido considerado, comportamentalmente, como uma extensão da autoimagem, às vezes até narcisista, daquilo que alguém deseja mostrar para o mundo.
Por ser facilmente compartilhado, o “selfie” virou moda, é uma fotografia amadora capturada no momento de um acontecimento, é uma maneira de dizer “eu sou, eu estou presente no mundo”, é uma exposição de si mesmo buscando ser validado.
Quando alguém compartilha algo com milhares de pessoas estranhas, fica exposto ao julgamento. É importante reforçar que pessoas julgam pessoas baseadas em suas crenças e valores de vida.
Pessoas compartilham “selfies” para satisfazer as necessidades do seu ego, criando expectativas com os comentários que, possívelmente, irão receber. Estes comentários quase sempre alimentam sentimentos de autoconfiança, adequação e pertencimento, pois encorajam, principalmente, o elo de ligação entre pessoas que possuem os mesmos padrões de comportamento.
Pessoas se identificam com outras pessoas que têm as mesmas crenças e valores, portanto, sempre existirão pessoas que irão curtir até quando alguém postar “selfies” muito íntimos, como por exemplo aqueles intitulados recentemente de “aftersexselfie”, que é aquela foto aparentemente tirada após o ato sexual.
Algumas pessoas preferirão se conectar com “selfies” de outras pessoas em momentos de felicidade, para satisfazer talvez uma possível necessidade de criar parâmetros sobre o que é felicidade.
As pessoas irão se identificar com cada tipo específico de “selfie” e irão se conectar por afinidades, ou seja, estarão buscando encontrar pessoas que têm os mesmos gostos, as mesmas referências, se tornando seguidores destas tendências.
Seguidores, como o próprio nome já indica, seguem a visibilidade daquilo que apreciam ver no perfil de alguém, incluindo ainda milhares de pessoas que ficam no anonimato, bisbilhotando as informações que são postadas diariamente.
É preciso considerar neste momento que existe também um desejo inconsciente do ser humano em “bisbilhotar” o ato de “olhar pelo buraco da fechadura”, ou seja, observar à distância e totalmente protegido pela invisibilidade, pelo anonimato, o que um outro ser humano faz. De uma maneira inconsciente, as pessoas que ficam conectadas em redes sociais, têm uma curiosidade quase “voyerista” de observar o que os outros estão fazendo, sem a necessidade de se expor, sem a obrigação de curtir, comentar ou compartilhar aquilo que os outros estão mostrando.
Por outro lado, quando alguém expõe o seu “selfie” tem esta mesma sensação inconsciente contrária, ou seja: tem a noção de que ficará exposto e que muitas pessoas estarão vendo aquilo que está desejando expor. É uma maneira de sentir um certo prazer que irá satisfazer o ego, alimentar a autoestima, mesmo arriscando a exposição.
Por outro lado é uma “exposição protegida”, pois a pessoa não está realmente exposta, não está diante de pessoas e, com isso, vence a desinibição, podendo criar inclusive uma imagem alterada de si mesmo, um “fake”, uma fantasia, um ideal de perfeição.
São tiradas várias e várias fotos, procurando o ângulo perfeito para a foto perfeita, para construir o seu “selfie” perfeito e, consequentemente, existe uma possibilidade maior de frustração e ansiedade, pois a expectativa de reconhecimento também é maior e, nem sempre, será atendida na realidade.
Segundo a teoria das necessidades ou motivações humanas do psicólogo Abraham Maslow, que mostra a prioridade em um nível hierárquico de como o ser humano atende suas necessidades, o “selfie” pode ser considerado como uma “necessidade de status, de reconhecimento, de auto-afirmação”.
Poder mostrar ao mundo que você é independente, que tem status, que acompanha a moda, é dizer que está preparado para ter aceitação, admiração e reconhecimento para ser alguém que pertence a um grupo específico de pessoas que curtem esta mesma moda e isto propicia prazer, mas é preciso tomar cuidado com o excesso, pois todo excesso pode gerar dependência.
O desejo compulsivo de tirar fotos de si mesmo, em qualquer ocasião, sem discernimento ético ou moral, e publicá-las em mídias sociais, para compensar uma possível falta de autoestima e preencher lacunas de pertencimento, poderá justamente ter o efeito contrário, ou seja, irá afastar ainda mais a pessoa da percepção do contexto, do mundo real, pois ela estará anulando a sua empatia, que é a qualidade que um ser humano possui em compreender e perceber a realidade dos outros.
Podemos perceber isto em um fato ocorrido recentemente no funeral de um famoso político que estava sendo coberto intensamente pela mídia televisiva: diante das câmeras que captavam o momento trágico e triste da cerimônia fúnebre, onde todos os familiares estavam reunidos, uma adolescente se aproxima da urna funerária com seu celular, encontra o seu melhor ângulo e clica sorridente posando para postar o seu “selfie perfeito”.
É preciso entender que, na vida real, não existem “selfies perfeitos”.
O mundo real é a nossa única realidade, mostrar sua cara, seu verdadeiro “selfie” é estar disposto a mostrar quem realmente você é, com seus erros e acertos, qualidades e defeitos, é preciso buscar o autoconhecimento antes do autorreconhecimento.
É preciso olhar para dentro de si, o seu olhar precisa ser de dentro para fora, antes de clicar o seu próximo “selfie”, lembre-se: você é muito mais do que aparenta ser.
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