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O efeito manada: O que é coaching, afinal?
Entenda o ''por quê?'' da polêmica do coaching na novela

O efeito manada: O que é coaching, afinal? <br/> Entenda o ''por quê?'' da polêmica do coaching na novela

O master coach, palestrante e escritor Edson De Paula - especialista em comunicação e comportamento - escreve um artigo sobre a polêmica do coaching na novela global. Afinal de contas, o que é coaching? 

Você sabe o que é coaching?

Parece que esta pergunta já foi respondida e repetida várias e várias vezes em minha vida.

Mas, existe uma máxima na comunicação e, como comunicólogo e especialista em comportamento, costumo respeitá-la. A máxima é essa: comunicação é redundância.

Precisamos repetir quantas vezes forem necessárias o que estamos querendo comunicar para sermos compreendidos. Então, vou responder aqui “o que é coaching”, mesmo sendo redundante, mas faz-se necessário neste momento. Por qual motivo faço isso?

Confesso que há anos não assistia uma novela, para ser preciso há mais de 30 anos!

Recentemente, fui abordado por alguns de meus clientes e alunos perguntando se eu estava assistindo uma “tal novela global” que tem em seu enredo uma “tal personagem” que exerce “uma carreira como coach profissional”.

A princípio, não dei muita atenção ao assunto e até fiquei feliz por saber que esta competência – o coaching - estava sendo abordada em rede nacional.

Note que eu disse “competência” e não “profissão”.

Coaching para mim é uma competência, um “skill” que todos podem aprender a desenvolver, mas que nem todos conseguirão exercer como uma carreira, pois há um investimento muito grande de tempo, recursos e esforços dirigidos para se tornar um coach profissional atuante.

Mas, agora o rumo da “tal novela global” mudou e começaram a fazer uma espécie de “salada mista” onde os ingredientes oferecidos ao público eram coaching, traumas, psicoterapia, hipnose…

… Desta vez, porém, fui abordado pelos mesmos alunos e clientes agora completamente indignados com a postura da “tal coach personagem da tal novela global”.

Precisei observar o que estava acontecendo na “tal novela” com a “tal personagem”, quebrando assim meu jejum de quase 30 anos sem ver uma novela.

É neste ponto que entro com minha opinião descrita neste artigo.

Há, na novela um evidente direcionamento equivocado sobre o que é coaching, a “tal coach personagem da tal novela global” chega a declarar em um dos capítulos que“existem algumas técnicas para descobrir dados, motivações... Tudo em função de uma cura interna... A gente usa, inclusive, a hipnose”, diz a personagem.

Cura interna? Hipnose? Uau!

Vamos entender do que se trata o assunto em questão: uma estratégia equivocada de merchandising que gerou resultados polêmicos em horário nobre. Apenas isso e nada mais!

Você sabe o que é merchandising?

É uma citação de determinada marca, produto ou serviço, sem as características explícitas de anúncio publicitário em mídia convencional, que pode ser um programa de televisão, de rádio, revista, jornal, entre outros.

Como ex-executivo de agência de comunicação sei como a estratégia do merchandising funciona e sei também que é preciso saber usar este recurso com muita consciência, pois quando acentuamos uma marca em mídia convencional massiva, lidamos também com todo o mercado, concorrência, clientes e leigos no assunto.

Então, eu posso afirmar que nesta ação de marketing equivocada, o “tiro saiu pela culatra”. O que significa esta expressão? Quando o efeito é exatamente ao contrário do que se esperava acontecer.

Houve uma grande comoção sobre o assunto, especialmente quando a novela global associou as palavras “coaching” com “hipnose”. Afinal, quem é “coach de verdade” sabe que não existe a possibilidade de utilizar hipnose no processo de coaching, pois isso além de “ser ilegal, seria também um problema de saúde pública”

…Mas, afinal de contas, o que é um “coach de verdade”? Será que isso realmente existe?

Há uma clara divisão de opiniões sobre o assunto em questão, especialmente no que diz respeito à concorrência e à vaidade de egos aflorados de algumas instituições que se dizem detentoras desta verdade, no caso, o coaching.

O que farei, então, é procurar esclarecer estas 2 abordagens distintas: coaching e psicoterapia.

Coaching é um processo que alinha competências técnicas e comportamentais em busca de um objetivo. O coach profissional é qualificado para realizar reflexões - em forma de perguntas provocativas - que auxiliam um cliente a encontrar suas próprias respostas e evoluir com autoconhecimento, autodesenvolvimento e autoperformance. É um processo que conduz um cliente - a partir da consciência plena do seu momento presente - para algo que o motiva a ser mais e melhor em um futuro próximo, ou seja um objetivo que contém desafios e aprendizados, rumo a um novo “mindset” de crescimento pessoal ou profissional.

Já a psicoterapia é uma abordagem que lida diretamente com questões psíquicas profundas, com a melhoria da saúde mental e emocional do indivíduo.

Dizer em rede nacional que o coaching utiliza hipnose ericksoniana - uma técnica muito séria e que deve ser aplicada apenas por psicoterapeutas experientes e habilitados para lidar com a saúde mental e emocional - acaba direcionando ou induzindo, de forma velada, um leigo a buscar a orientação de um coach em vez de um psicoterapeuta.

Para reforçar o que estou dizendo: a novela que está sendo exibida em rede nacional aborda uma clara questão de trauma psicológico - uma intercorrência, um grave conflito físico, psíquico e emocional ocorrido no passado, uma situação angustiante ou dolorosa que continua causando repercussões negativas na vida do indivíduo em razão da dificuldade de superação do acontecimento.

Portanto, em um processo de coaching profissional, quando um cliente aparecer com este tipo de intercorrência que envolve claramente um trauma psicológico, deverá o coach orientá-lo a buscar o auxílio de um profissional habilitado para tal questão, no caso, um psicoterapeuta.

Não sei qual será o próximo capítulo da novela, pois não sou o roteirista e nem pretendo continuar contribuindo com a audiência apenas como um telespectador passivo, que assiste sem poder emitir sua opinião.

O que eu espero sinceramente é que toda esta confusão seja dirimida para o bem do coaching e da psicoterapia no Brasil. Digo isto, porque tenho um profundo respeito pelas 2 abordagens, cada uma com o seu valor e importância: elas podem até se complementar, mas jamais serem aplicadas juntas pois, como já disse, são distintas.

Vamos ficar atentos, pois, estamos vivendo um momento histórico no Brasil.

Infelizmente ou felizmente para alguns, nosso país ainda está aberto às oportunidades e também aos “oportunismos”. Precisamos ficar mais atentos, conscientes de nossas responsabilidades.

Recordo-me claramente daquela frase “vida de gado, povo marcado e povo feliz”, eternizada na linda música do compositor paraibano Zé Ramalho.

Precisamos ter muita cautela com o pernicioso “efeito manada”, um comportamento animal análogo ao humano de agir conforme o movimento da maioria, com aqueles pensamentos e comportamentos típicos como “se todo mundo está indo por este caminho, então, este é o melhor caminho” ou ainda “se há muita gente na fila de espera diante de um restaurante, então, é porque vale a pena entrar neste restaurante”.

Infelizmente, nem sempre restaurantes lotados possuem as melhores refeições: milhares de pessoas incautas e desesperadas por uma “nova e promissora carreira” tão difundida na atualidade nas propagandas alusivas do agressivo mercado de vendas do coaching, estão – literalmente - pagando para comer esta “salada mista” do coaching deturpado que mistura hipnose, técnicas de regressão, caminhada em brasas e gritos eufóricos de “yes, yes, yes”.

Este é o verdadeiro “efeito manada” e afinal de contas, o que é coaching?

Será apenas mais um produto de prateleira? Algo que se tem um rótulo? Algo que você pode comprar e usar de qualquer jeito?

Não podemos brincar jamais com a natureza humana e a capacidade de transformação que o ser humano possui na sua essência. Ninguém tem ou detém o poder sobre esta capacidade. Não há limites para isso, não há processo que sustente esta força. Cuidado!

O que me fascina na natureza humana é a imprevisibilidade que distancia cada vez mais o entendimento da sua plenitude. Saber qual é o limite do ser humano é como tentar encontrar uma resposta exata para a pergunta “Qual é o sentido da vida?”.

Não há sentido e nem exatidão para a vida se houver um limite, pois toda transformação é um processo contínuo da evolução humana.

Para concluir este artigo deixo aqui um ditado da tribo sioux que diz “ouça os murmúrios para não ter de ouvir os gritos”.

Você está atento aos murmúrios ou já está ouvindo os gritos?

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